terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Como matar milhares de bancos saudaveis, com uma cajadada só

Finalmente saiu hoje mais detalhes do plano de ajuda aos bancos. Os 20 (ou 19, dependendo da fonte) bancos com mais de 100 bilhões em assets serão cuidadosamente monitorados, e será injetado capital neles se mostrarem sinais de fraqueza. Assim manter-se-á a "estabilidade" do sistema.

Exemplo digno de livro-texto de economia: "Como matar o livre comércio com ajuda estatal". Primeiro se pega bancos quebrados com trilhões de dolares em bad assets. Depois se injeta dinheiro do contribuinte nesses bancos, porque sao "too big to fail". Depois disso, num golpe derradeiro, afirma-se que somente estes bancos irão receber tanta atenção do governo.

Primeiro há o problema óbvio de comprar ações de bancos quebrados com dinheiro impresso. Todo mundo que tem dólar no bolso (ou seja, todo mundo), agora é acionista compulsório do Citigroup e derivados. Mas pior que isso, são as consequencias da interferencia estatal no livre mercado. Sem se meter em teorias econômicas, fica a seguinte pergunta: Imagine que você vive num país onde se está quebrando dois bancos por semana. Você deixa seu dinheiro depositado num banco pequeno, mas altamente saudável e responsável. Ai o governo informa que vai monitorar a saude apenas dos bancos grandes, para injetar capital se for preciso. Onde você depositaria seu dinheiro no outro dia?? A atitude do governo dos EUA de manter a estabilidade economica acaba por matar todos os outros 7800 bancos, grande parte deles muito mais saudaveis que esses gigantes buraco negro de dolares.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

A morte dos preços e do livre mercado

Nos idos tempos de setembro, com a nacionalização da Fannie Mae e Freddie Mac, me lembro de ter tido umas conversas bem produtivas com umas pessoas que infelizmente não apareceram mais pelos foruns de discussões. E, por mais apocaliptica que essas conversas eram, a situação hoje está pior do que a que foi pintada.

Ao que parece, o livre mercado sofreu serios golpes, e uma das principais ferramentas economicas está sendo eclipsada: Os preços. Explique-se: Em um capitalismo de mercado, os participantes são livres para concorrer entre si, e oferecer preços que reflitam a realidade. Assim, se se oferece uma hipoteca a 6% de juros, é porque os participantes do mercado entendem que esse é o menor preço possível de ser oferecido, levando em consideração o custo-beneficio. Ou seja, em um mercado livre, os participantes tentam ao máximo precificar certo as coisas, pois qualquer deslize comprometerá seus lucros, e consequentemente, o bem estar do participante e de seus dependentes. O preço surge como uma poderosa ferramenta de alocação de recursos e de pessoal. Assim, se, por exemplo, o preço do arroz sobe, mais pessoas produzirão o arroz. Se a procura por hipotecas sobe, os seus juros tambem sobem, e as pessoas estarao inclinadas a investir la seu capital ocioso. Tudo perfeito.

Já num planejamento central, os preços são ditados pelos políticos. Estes políticos que dizem quanto vai ser produzido de cada coisa, e a que preço. Como eles recebem um salário, seu bem estar nao está ligado ao sucesso de seu trabalho, e erros sao cometidos. Preços sao fixados por razoes politicas, e nao economicas, comprometendo a produtividade. Na União Sovietica todos tinham emprego, mas todos eram pobres. Se a procura do arroz sobe, seu preço continua o mesmo, e filas se formam nos supermercados. Não há estimulo para mais produção de arroz.

Há 20 anos os EUA declararam como morto o planejamento central e sua ineficiência, e declararam o livre mercado como vencedor da guerra fria. Duas décadas depois, estamos vivendo uma ironia surreal que nem o Woody Allen seria capaz de imaginar. No mundo capitalista desenvolvido, os bancos foram nacionalizados. Alguns de direito, outros ainda de fato, mas nacionalizados. Agências hipotecarias tambem. E as montadoras recebem instruções do governo para continuar a receber emprestimos. Vamos à consequencia lógica das ações que o george bush disse que foram necessarias para se salvar o "mercado livre".

1) Não há mais preços. Se injetou trilhoes de dolares no mercado, que distorceu todos os fundamentos. O Spread bancario, o hipotecario, todos estao sendo mantidos a taxas artificialmente baixas. O governo usa o dinheiro do controbuinte para tentar voltar ao status quo, mas ante o exposto, é obvio que o dinheiro do contribuinte é pior que o do mercado privado (mercado esse que sabiamente se mantes longe desse boom).

2) Decisões de alocação de capital não são mais econômicas, mas políticas (http://www.telegraph.co.uk/finance/financetopics/financialcrisis/4787844/07am-tues-14billion-Northern-Rock-mortgage-deal-will-not-help-first-time-buyers.html). Não mais se aplica capital porque se dá lucro, mas porque os políticos acham que "as pessoas precisam". Isso resulta em juros populistas, onde pessoas que nao deviam pegar emprestmos pegam. Consequencia: Um rombo enorme está porvir, no orçamento desses países.

3) Competição entre governo e capital privado. O capital privado não tem condições de concorrer com o capital estatal. É desleal, o governo tem uma máquina de imprimir dinheiro. Imaginem o mundo bancario dos eua, com seus milhares de bancos. Imagine que você tem dinheiro depositado em alguns desses bancos. Agora, o mundo começa a cair, os bancos a quebrar, e uma meia duzia de bancos recebe ajuda direta do governo, porque sao muito grandes para quebrar. Os bancos menores não. Você deixaria seu dinheiro nesses bancos menores?? A Assimetria sendo criada pelo governo dos EUA vai ser um pe na cova justamente naqueles bancos que nao precisam de ajuda.

Agora, o cidadao do maior mercado livre do planeta, hipoteca sua casa com dinheiro do governo, vai no banco do governo e pega dinheiro emprestado pra comprar um carro do governo. Produtivo, não?