quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

15 de janeiro de 2008

Desenferrujando as engrenagens do blog, vou tentar fazê-lo funcionar de novo, pra recapitular um dia deveras interessante, que eu acho que hoje houve eventos que não receberam sua devida importância histórica. Olhem só que dia agitado:

Na expectativa do resultado do Citi amanhã, e o Bank of America semana que vem, o mercado abriu com queda de 20% em cada. Depois, os pródigos congressistas norte-americanos apresentaram um cheque no total (em nossa moeda tupiniquim para fins de comparação) R$ 2.803.550.000.000,00. Se todos os brasileiros guardassem todos os suprimentos, de tudo o que precisassem, e trabalhassem por um ano inteiro, não chegaríamos nessa cifra. Se nós pegássemos a dívida pública e duplicassemos, tambem não alcancariamos esse valor.

Dos US$ 1.150.000.000,00, O TARP é responsável por US$ 350.000.000,00. Trezentos e cinquenta bilhões livres para continuar o projeto tapa-remendo do tesouro. Não é de se imaginar porque o Citigroup e o Bank of America aliviaram suas cotações no decorrer do dia. O restante, US$ 825.000.000,00 vai para o pacote de Obama, que vai livrar nós todos da crise.

Bastante dinheiro, hein? A notícia fica mais interessante ainda quando lembramos que o orçamento anual do do governo é um deficit de 1.2 trilhoes de dólares. Esse deficit é o maior da história, chegando a 8% do PIB, mais que o suficiente para abaixar o rating de qualquer país do mundo (exceto os USA) e deixá-lo ao lado de junk bonds. Apesar de já estare em quase 500 bilhoes esse deficit (o ano fiscal comecou no 4 trimestre de 08), o congresso consegue, com um dia só, tratar de mandar imprimir dinheiro pro ano todo.

E isso não para por aí. O governo da California, vulgo "oitava economia do mundo", expedirá promessas de pagamento já no mês que vem, caso não aconteça um milagre. É o equivalente da insolvencia de um Brasil no coração dos EUA. MAis dinheiro federal à vista!

Por outro lado, o FED, em somente um de seus programas de adotar políticas contra a gravidade e conter o estouramento de uma bolha, gastou US$ 23.4 bilhoes somente hoje, na compra de assets lastreados em hipotecas, levando os juros à menor taxa histórical. Tudo parte de um "plano" que já gastou mais de US$ 100.000.000.000,00, e pode gastar 570 bilhoes a mais (não no total, mas a mais) este ano. Isso sem contar os outros planos trilionários que emprestam dinheiro tendo como garantia um asset qualquer.

Todo cidadão dos EUA, e, por tabela, todas as pessoas que possuem alguma coisa em dólar, é cotista do maior e mais furado hedge fund do mundo.

Ficam duas perguntas no ar:

1) Como diabos as agências de rating, e o próprio Mr. Market (a julgar pelos yields), consideram os Estados Unidos e sua moeda como o lugar mais seguro do mundo??

2) Quem, no meio da pior crise de crédito vai querer emprestar todo esse dinheiro para os americanos? 1.2 trilhoes de dolares é o dobro de todos os treasuries que a china. Não só é uma quantia exorbitante para qualquer pessoa com bom-senso, mas vai competir com os treasuries gastos pelos países para conter a própria crise. O Alan Greenspan, no seu livro, fala que o defeito da Argentina foi fixar o peso ao dólar, e pegar dinheiro emprestado irresponsavelmente devido à essa paridade. Pois bem, tem países que não sabem olhar para o proprio umbigo.

Aprendemos realmente com a história. Se começamos seguindo os mesmos passos da crise de 29, já enveredamos por outros caminhos, com outras políticas. Se numa época de depressão pelo menos caem os preços das coisas, parece que essa vai ser um pouquinho diferente.

O mais gozado de tudo é que Enquanto isso acontecia, o ibov subia 3% com as "boas notícias". Liberaram o plano do Obama. Bola pra frente que a crise acabou. E vamo que vamo ver esse resultado do Citi.

5 comentários:

Samuel Ramos disse...

coloca nessa lista aí o estranho acidente do avião no rio Hudson

que timint para aparecer um herói e para se falar em patriotismo

Samuel Ramos disse...

timint leia-se *timing
:P

Alberto Caeiro disse...

Um verdadeiro herói americano se mostrou naquele dia.

Mas nas minhas íntimas teorias conspiratórias, eu acho mesmo é que a China previu e desejou o que está acontecendo agora (podiam ser algumas poucas vezes antigamente, mas cada vez mais essa ideia me passa pela cabeça). Anos e anos de industrializaçao (com câmbio controlado) e dinheiro emprestado aos EUA, de 5 anos pra ca diminui a compra de treasuries e começa a comprar Mortgage Backed Securities em massa. Tão em massa que mudou os axiomas da proprio mercado imobiliario.

Agora já tem uma poupançazinha de alguns trilhões e pode adaptar sua indústria à demanda local. Simplemente para de comprar esses títulos, e começa a gastar a poupança em infraestrutura. Enquanto isso, deixa seu maior rival congelado, a ver navios e se perguntando o que é que está acontecendo.

Pra que diabos um país em desenvolvimento, com tanto investimento que daria um ótimo retorno, juntaria 3 trilhoes de dolares, se não pensasse que vacas magras viriam num futuro próximo?

O FED tá comprando MBS's para manter vivo o mercado imobiliário. O Obama falou que um deficit na casa do trilhao de dolares nos proximos anos era esperado. Quero ver qual vai ser o resultado disso, quando a china começar a fazer seus movimentos.

Alberto Caeiro disse...

p.s: na hipótese de um acidente de verdade, os EUA devem a vida à esse piloto. Já imaginou um boeing caindo no meio de Nova York dias antes da posse do presidente, e a inteligencia dos EUA dizendo que foi um pássaro que entrou no motor???

Unknown disse...

Samuel Ramos por aqui? Este blog torna-se ainda mais obrigatório. Alberto, parabéns pela volta. Eu consultava toda a semana na expectativa de rever suas opiniões, sempre sensatas e esclarecedoras.
Rasgada a seda, vem por aí a hiperinflação na matriz ou uma renegociação por decreto de todas as dívidas, o que dá na mesma. O impossível é restituir o crédito a curto prazo. Crédito é confiança, e esta não voltará tão cedo. Há pessoas (mesmo nos governos) por trás dos hedge fund e dos ativos creditícios (treasuries incluídos), e pessoas têm medo, tanto maior quanto mais forem credoras. O poder político destas pessoas tem levado os governos a tentar injetar crédito artificial a custa de déficit crescente dos tesouros americanos e europeus, na crença (não de todo absurda, em situações normais estariam certos) de que estes déficits são administráveis. O problema é que sem confiança o crédito extra não será usado para fazer a economia real girar novamente. Isto só se resolve com soluções dolorosas, como um debasement: anulem todas as dívidas ou as diminuam significativamente, e, lentamente, a confiança voltará, tudo girará novamente. Só que isto significa a perda de valor de todo aquele dinheiro acumulado em paraísos fiscais, significa varrer toda a riqueza baseada em créditos de dívidas, significa solapar a confiança dos grandes. Vai acontecer, só resta saber quando. E aí, aos poucos, a economia real retomará a confiança e voltará a respirar, na matriz ou em qualquer lugar. Concorda?